Pular para o conteúdo principal

Destaques

Segredos Ditos à Luz do Crepúsculo

O vento acariciava suas crinas cor-de-avelã enquanto tamboreiavam a terra com seus cascos. Seus olhos sombrios e brutos refletiam o róseo do horizonte, que era interrompido apenas pelo dourado do sol escapando por dentre as nuvens. Dentes-de-leão dançavam ao vento e grudavam em suas pelagens. Não sentiam fragrâncias, pois suas narinas apenas captavam o frio do inverno que se aproximava. Corriam em direção ao que restava de sol. Eram, como é próprio de sua natureza, livres. Distante dali, restava o cavaleiro. O homem portava uma longa barba e utilizava vestes coloridas e suntuosas que, na sociedade dos homens, indicavam uma posição de estima e respeito. Estas, no entanto, estavam gastas, desbotadas e batidas - era evidente que havia muito tempo desde a última vez em que o cavaleiro adentrara os grandes salões que reconheciam o significado dos seus trajes. Salões estes que já haviam deixado a materialidade e residiam agora apenas em memórias e delírios. Sentado aos pés da fogueir...

TÔ VENDO VOCÊS! O TRIUNFO DO HOMEM-ANIMAL

 




Depois de reformular seu universo na Crise nas Infinitas Terras em 1985, a DC comics resolveu dar uma nova chance para personagens menores e esquecidos, alguns desses personagens foram entregues para escritores britânicos  iniciantes no mercado americano. A estratégia deu certo, Neil Gaiman criou sua versão do Sandman e a usou para falar de mitologia, mudança e vida de forma paradoxalmente onírica e realista, Alan Moore desconstruiu os super heróis em Watchmen, Grant Morrison por sua vez escolheu o Homem-Animal para sua estreia na editora das lendas.

 

Primeiro vamos tratar do elefante na sala, O Homem-Animal era um personagem terrível, ele não tinha nenhuma história memorável, seu poder de absorver as habilidades de animais próximos é extremamente situacional e nem mesmo seu uniforme era chamativo, era só mais um personagem esquecível da era de prata. Morrison aproveita do histórico do personagem pra começar sua run com um Homem-Animal aposentado da vida de herói, vivendo apenas sua vida civil como Buddy Baker, casado e com filhos morando numa casa de subúrbio americana, ele resolve dar uma última chance ao ramo de heroísmo e logo de cara se envolve em uma trama envolvendo uma indústria farmacêutica que faz testes em animais,  a partir daí as aventuras do personagem passam a tratar de causas animais e ecologia com bastante frequência: o Homem-Animal vira vegetariano, enfrenta pesca ilegal e até se envolve com grupos ilegais que lutam pela defesa dos animais.

 

Mas apesar do aspecto político da revista ser muito interessante, o aspecto revolucionário do roteiro é o uso da metalinguagem, que é introduzida na história “O Evangelho Segundo o Coiote”. Na trama uma figura extremamente semelhante ao coiote dos Looney Tunes se rebela contra o ciclo de violência perpétuo de sua realidade cartunesca, como punição ele é enviado por Deus(que na história é claramente o desenhista) para o mundo dos super heróis onde ele é submetido a um ciclo eterno de mortes para livrar os outros animais dessa sina, mas como o universo dos super heróis é mais realista, os acidentes semelhantes aos vistos em desenhos, como atropelamento ou ser esmagado por uma pedra,   são extremamente dolorosos . A história consegue fazer do coiote uma figura messiânica e trágica, semelhante a Prometeu, Sísifo e Cristo, para discutir as diferentes maneiras de representar a violência de acordo com o gênero de uma obra, podendo causar riso ou pena, mas sempre resultando em entretenimento.

 


Conforme as edições passam a metalinguagem se torna gradativamente mais presente, em um momento Buddy consegue ver o leitor do outro lado da página e um dos arcos é consequência de um personagem questionar a necessidade de reformular o universo. A história atinge seu clímax quando o herói decide vingar a morte de sua família e dá de cara com o arquiteto de todos os percalços e desafios de sua vida:  um jovem escocês apaixonado por quadrinhos chamado Grant Morrison.



A última edição finaliza o run com Buddy confrontando seu roteirista e o culpando por todo o sofrimento presente em sua vida, questionando o uso de violência extrema para causar choque no público. Morrison também discorre sobre a volatidade dos heróis de Hqs americanas, que estão em constante mudança por causa das trocas de equipes criativas.

O uso da quebra da quarta parede, que atualmente é usado por muitos roteirista como um recurso estritamente cômico, aqui é usado para questionar o leitor e fazê-lo refletir sobre o próprio ato de consumir revistas de heróis e apreciar sequências extravagantes de luta.

 

Homem-Animal é uma obra clássica, que é brilhante em seus questionamentos e uso de recursos como a metalinguagem, a recomendo para qualquer leitor de quadrinhos procurando algo diferente, e é um ótimo ponto de partida para ler histórias do Grant Morrison.



Me segue nas minhas redes sociais:

Instagram

Twitter

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas