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STREET FIGHTER III 3RD STRIKE É A DEFINIÇÃO DE TOUGH LOVE
A maior
parte das pessoas que jogam videogames já jogou algum jogo de luta, o que é de
certa forma curioso, porque o gênero não é exatamente acessível para jogadores
casuais. Jogos de luta são extremamente complexos, requerem reconhecimento de
padrões, memorização de comandos e familiarização com os mais diversos sistemas.
Os jogos de luta, nesse quesito, são muito mais próximos dos RPGs do que de
outros jogos de ação.
Eu sou um
entusiasta do gênero. Eu gosto de jogar Guilty Gear, Blazblue, King of Fighters,
Smash Bros, Marvel vs Capcom, Darkstalkers e Street Fighter. Eu já gastei
centenas de horas com jogos dessas franquias. Eu não sei jogar nenhum deles.
Meu
primeiro jogo de luta foi, muito provavelmente, algum relançamento do Street
Fighter II (ou um Smash Bros, mas para fins de argumento vou considerar o SF),
o jogo impressionava logo de início com aquele mural cheio de personagens
jogáveis expressivos (e de certa forma estereotipados, mas isso não vem ao caso)
cada um com suas particularidades e sistemas próprios, o Guile, por exemplo,
tem movimentos que requerem segurar o direcional em uma direção por um tempo,
diferente do Ryu, onde só é necessário mover os direcionais em direções
específicas. Eu completei o modo arcade com cada um dos personagens, aprendi
alguns comandos e acabei abandonando o jogo. Não havia mais o que fazer, eu já
havia sido testado e saído vitorioso com todos os personagens, não havia motivo
para continuar jogando e aprendendo comandos e sistemas do jogo, o entendimento
raso já era o suficiente.
Eu fiquei
muitos anos sem jogar jogos de luta, no máximo jogava um Smash Bros
ocasionalmente. Eu sabia que eles me divertiam, mas nada me levava a querer
jogar um. Isso mudou quando eu vi um trecho de 1 minuto e 16 segundos de Street
Fighter III 3rd Strike. O famoso momento 37 da EVO aconteceu em uma partida
entre Justin Wong e Daigo Umehara na semifinal da EVO de 2004. Umehara, com
pouco da barra de vida sobrando, conseguiu o feito de dar 15 parries
seguidos nos chutes do especial da Chun-li e ainda usar o seu especial para
derrotar o oponente. O parry é uma mecânica do Street Fighter III que
consiste em apertar o direcional em direção ao golpe do oponente para anular
seu dano completamente, diferente do bloqueio, que apenas diminui o dano. O
diferencial do parry é que ele é um sistema de alto risco e recompensa, a
janela de tempo para executar o movimento é de aproximadamente um décimo de
segundo, o jogador é obrigado a escolher entre bloquear, mas levar parte do
dano de forma mais segura, ou arriscar levar o dano inteiro para tentar
anulá-lo.
A jogada de
Daigo exemplifica tudo que Third Strike faz direito: ele é um jogo extremamente
técnico e preciso, o skill ceilling é altíssimo, permitindo e encorajando
o jogador a melhorar.
Quando eu
vi aquilo pensei imediatamente “eu quero conseguir fazer isso” e assim que pude
peguei o jogo.
O desafio
do jogo começa antes mesmo da primeira luta. Na versão de arcade o público, ao
colocar uma ficha, dá de cara com um elenco de personagens nada ortodoxo para a
franquia, havia apenas 4 personagens retornando dos jogos passados contra 15
estreantes. Logo de início o jogador é obrigado a escolher entre um personagem
antigo já conhecido ou arriscar uma ficha para talvez encontrar algum
personagem que o cative.
O modo
arcade do Street Fighter III é difícil, ainda mais para alguém como eu, que só
tinha um entendimento superficial do jogo. No começo eu não conseguia nem mesmo
passar da metade do modo arcade. Isso, entretanto, não me desmotivou, pelo
contrário, o jogo me despertou a vontade de aprender cada uma daquelas técnicas
e sistemas. Cada detalhe de Street Fighter III é elaborado com cuidado e é
pensado para funcionar perfeitamente junto com os outros, o jogo espera que o
jogador, por sua vez, use todas as ferramentas que ele deixa à disposição.
Eu joguei
Street Fighter III 3rd Strike por centenas de horas. Eu aprendi sobre seus
personagens, sistemas e comandos. Entretanto, eu ainda não sei jogar esse jogo,
eu não consigo fazer combos longos, o shoryuken ainda me confunde (sério
que aquilo é um z no controle como mostra o menu?) e eu não consigo nem mesmo
chegar no chefe final do modo arcade com nenhum personagem tirando o Ken, e
mesmo com ele não consigo vencer o chefe. Eu só consigo usar o parry em Hadoukens.
Eu nem sonho com acertar os 15 parries do especial da Chun-li, mas eu já
consegui acertar o primeiro, e foi nesse momento que eu percebi que Street
Fighter III não estava contra mim, ele não foi feito para ganhar do jogador não
importa o que aconteça, ele quer ser vencido, mas de maneira limpa. A vitória
em Street Fighter III Third Strike só vem pros poucos jogadores que entendem
Street Fighter III Third Strike.
Eu não sou
uma dessas pessoas, mas a perfeição técnica do jogo é incentivo suficiente para
me levar a aprender cada vez um pouco mais sobre ele, e mesmo que eu não
consiga nem terminar o modo arcade, cada parry, cada combo e cada
mecânica que eu aprendo, já traz satisfação suficiente para me fazer querer
gastar mais uma centena de horas quebrando a cara no arcade ou no online, e eu
não poderia pedir mais do que isso de um jogo.
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