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Segredos Ditos à Luz do Crepúsculo

O vento acariciava suas crinas cor-de-avelã enquanto tamboreiavam a terra com seus cascos. Seus olhos sombrios e brutos refletiam o róseo do horizonte, que era interrompido apenas pelo dourado do sol escapando por dentre as nuvens. Dentes-de-leão dançavam ao vento e grudavam em suas pelagens. Não sentiam fragrâncias, pois suas narinas apenas captavam o frio do inverno que se aproximava. Corriam em direção ao que restava de sol. Eram, como é próprio de sua natureza, livres. Distante dali, restava o cavaleiro. O homem portava uma longa barba e utilizava vestes coloridas e suntuosas que, na sociedade dos homens, indicavam uma posição de estima e respeito. Estas, no entanto, estavam gastas, desbotadas e batidas - era evidente que havia muito tempo desde a última vez em que o cavaleiro adentrara os grandes salões que reconheciam o significado dos seus trajes. Salões estes que já haviam deixado a materialidade e residiam agora apenas em memórias e delírios. Sentado aos pés da fogueir...

BIOSHOCK INFINITE E A FALSA EQUIVALÊNCIA OU O MEDO DE SE POSICIONAR

 


Por causa da pandemia do COVID-19 resolvi tirar alguns jogos da minha fila.

Comecei pelo Bioshock Infinite, e logo me surpreendi, o jogo é muito divertido, a combinação entre os poderes e as armas funciona bem demais, e ao contrário do que vi muitas pessoas criticando na época do lançamento, acho bom  não ser essencial balancear os dois durante o combate, gosto de pensar nos poderes como ferramentas opcionais, também acho interessante a limitação de carregar só 2 armas por vez porque torna a troca de armas derrubadas pelos inimigos bem dinâmica e em quase todos os combates é possível achar quase todas as armas disponíveis, então não ocorre uma escassez artificial de munição, que é algo que me incomodava muito no primeiro Bioshock, porque o jogo tinha pouca munição no cenário, mas os combates exigiam que o jogador usasse muita munição sem que houvesse nenhuma alternativa para o combate direto. 

A direção de arte é ótima, os personagens têm um quê de Disney em sua aparência, e o cenário do jogo é de encher os olhos: o jogo se passa em Columbia, uma cidade flutuante em 1912, a estética retrofuturista é, na minha opinião, o ponto mais forte da franquia.

 A trama principal é muito dinâmica, as realidades paralelas são muito bem utilizadas e os personagens são muito bem escritos. O amadurecimento da Elizabeth é orgânico e bem desenvolvido, a química entre ela e o Booker é ótima e é bom ver uma personagem feminina que não é apenas um interesse amoroso. Os irmãos Lutece também roubam a cena, eles funcionam como um ótimo alívio cômico e tem um papel muito interessante na trama.

O pano de fundo da história é bastante peculiar, Columbia é uma cidade linda e extremamente avançada tecnologicamente, mas ela é governada por uma teocracia autoritária, a sociedade é  preconceituosa, o casamento inter-racial é proibido e as populações negra e irlandesa são bastante marginalizadas, as camadas mais pobres da população, assim como no mundo real, trabalham em péssimas condições por muito tempo e são extremamente mal remuneradas. Tamanha desigualdade gera a criação de uma resistência e, mais adiante no jogo, uma rebelião.

O único problema que realmente me incomoda no jogo é que, para uma franquia tão pautada em política, a trama não se posiciona em momento nenhum, inclusive durante a revolta que ocorre na segunda metade do jogo, o personagem principal diz que a população marginalizada e a população rica e exploradora são dois lados da mesma moeda, e essa é uma falsa equivalência, um lado é uma população intensamente racista e maníaca religiosa e o outro é a população excluída, sem qualquer representação política e sem nenhuma possibilidade de mobilidade social. A rebelião é violenta? Sim, mas qual é a alternativa para eles? E essa não é a primeira vez que algo como isso acontece na franquia, no Bioshock original os grupos que se rebelam são tão corruptos quanto o sistema.

Algumas pessoas justificam essa parte do jogo dizendo que aquela é apenas a opinião de Booker, o que seria ok dentro da trama proposta, principalmente quando analisamos as revelações sobre o passado do personagem, o problema é que em nenhum momento o jogo se esforça para dizer que a opinião de Booker sobre isso não é correta, pelo contrário, quando você enfrenta os revolucionários eles são tratados como os outros inimigos, e isso é um desperdício do conceito que a própria trama apresentou mais cedo quando Booker é confrontado sobre sua violência extrema  e sobre o assassinato de inocentes por suas mãos. 

Na primeira metade do jogo você só enfrenta os soldados do governo, que te acusam de ser o falso messias, até ai você não precisa questionar suas ações. Já quando enfrenta pessoas que  estão apenas lutando por seus direitos, mas que estão no seu caminho, o roteiro poderia fazer o jogador se arrepender de suas ações e se sentir mal por matar aquelas pessoas, ao invés disso o plot segue por um caminho “os dois lados estão errados” e abandona algo que havia sido introduzido e que tinha potencial para ser desenvolvido de forma inteligente e crítica propondo um papel mais ativo do público.

O roteiro tenta apontar para todos os lados, mas no fim acaba por ter medo de se posicionar e não atinge conclusão nenhuma. Isso estraga o jogo? Não mesmo. Mas é uma pena que um cenário tão bem construído tenha medo de dizer algo mais relevante e, infelizmente, parece que uma parte do discurso do jogo é desperdiçada. 




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