Pular para o conteúdo principal

Destaques

Segredos Ditos à Luz do Crepúsculo

O vento acariciava suas crinas cor-de-avelã enquanto tamboreiavam a terra com seus cascos. Seus olhos sombrios e brutos refletiam o róseo do horizonte, que era interrompido apenas pelo dourado do sol escapando por dentre as nuvens. Dentes-de-leão dançavam ao vento e grudavam em suas pelagens. Não sentiam fragrâncias, pois suas narinas apenas captavam o frio do inverno que se aproximava. Corriam em direção ao que restava de sol. Eram, como é próprio de sua natureza, livres. Distante dali, restava o cavaleiro. O homem portava uma longa barba e utilizava vestes coloridas e suntuosas que, na sociedade dos homens, indicavam uma posição de estima e respeito. Estas, no entanto, estavam gastas, desbotadas e batidas - era evidente que havia muito tempo desde a última vez em que o cavaleiro adentrara os grandes salões que reconheciam o significado dos seus trajes. Salões estes que já haviam deixado a materialidade e residiam agora apenas em memórias e delírios. Sentado aos pés da fogueir...

BATMAN EGO: O CAVALEIRO DAS TREVAS NO DIVÃ

 



Batman, o herói criado em 1939 por Bill Finger e Bob Kane, é inegavelmente, um dos maiores ícones culturais da atualidade. É difícil encontrar alguém que nunca tenha tido contato com o personagem, tudo já foi feito com o homem-morcego. Ele já acumula mais de 80 anos de histórias nos gibis, já protagonizou filmes, séries e desenhos animados, mas ainda é possível contar nos dedos as obras que realmente se propõem a entender a psiquê do cruzado encapuzado. Batman Ego é uma delas.

Na história escrita e desenhada por Darwyn Cooke, Bruce Wayne é confrontado por seus próprios medos representados pela figura do Batman. A trama discute a eficiência de sua cruzada contra o crime, seu código moral de não matar e a mensagem transmitida pelo cavaleiro das trevas.

Bruce Wayne é, acima de tudo, um homem perturbado. Sua vida acabou no beco do crime quando ele tinha 10 anos de idade e presenciou o assassinato dos pais. Desde então cada dia de sua existência é dedicado a um simples propósito: acabar com o crime e impedir a morte de inocentes.

Cooke interpreta a cruzada do cavaleiro das trevas não apenas como vingança ou justiça, mas como uma tentativa de amenizar o medo e a angústia que o perturbam. Talvez sua missão interminável seja uma forma destrutiva de evitar seus medos e inseguranças. Sua guerra contra o crime pode ser apenas uma forma de se convencer da existência de um mal externo que, ao ser expurgado eliminaria todo o impacto daquele trauma de infância. É uma forma quase infantil de encarar o problema, porque, essencialmente, o maior detetive do mundo ainda é aquele garotinho jurando vingar a morte de seus pais, e que desde a infância se recusa a encarar o assunto de outra forma.

O código moral do homem-morcego também é questionado pela figura do Batman. Não seria hipócrita da parte de Bruce não matar seus inimigos, já que isso evitaria mortes? Não. Bruce vai carregar o peso de todos os assassinatos cometidos pelos psicopatas de Gotham, mas essa é a única linha que ele não pode cruzar. Matar só igualaria suas ações às de seus inimigos. O Batman precisa acreditar na reabilitação de seus vilões, pois apesar de representar o medo para os criminosos da cidade, o herói também precisa representar a justiça, precisa mostrar que podemos encarar o mal sem nos rebaixarmos a ele. O vigilante é paradoxalmente, um símbolo de que as leis podem funcionar, apesar de ter sido criado quando o sistema falhou em proteger os pais daquele garotinho.

No final da história, Bruce consegue chegar em um acordo com seu outro eu, a faceta do Batman. Ele, finalmente, admite suas falhas e inseguranças, ressignificando sua guerra contra o crime. A batalha deixa de ser somente sobre justiça, vingança ou uma forma de lidar com o luto e se torna uma maneira do cavaleiro das trevas canalizar todo seu sofrimento para transformá-lo em algo positivo: a defesa dos fracos e a valorização de vidas humanas acima de tudo.

O guardião de Gotham é um personagem fascinante por ser uma figura trágica: um homem rico que atingiu o ápice físico e mental e que, movido por seus medos, esconde seu verdadeiro eu, representado pela figura do morcego. Ele escolhe travar uma guerra sem fim em busca de justiça, vingança e uma paz interior que ele sabe ser inalcançável.




Me segue nas minhas redes sociais:

Instagram

Twitter

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas